O fato mais marcante para cristãos no muno todo é, sem dúvida, a morte e ressureição de Jesus Cristo! Após esses fatos, o Cristianismo começa a surgir como religião monoteísta alternativa ao Judaísmo. A morte de Jesus é relatada nos evangelhos, assim como todo seu processo de julgamento. Contudo, não são poucos os pontos contraditórios entre as textos bíblicos e a realidade histórica daquele contexto. É necessário ter em mente que os evangelhos são relatos de cunho teológico e que não necessariamente estão comprometidos com a objetividade que a História (enquanto ciência) busca acima de qualquer coisa. Assim sendo, gostaria de destacar uma figura importante dos relatos bíblicos e não menos controversa. Trata-se de Pôncio Pilatos - governador romano na província da Judéia- autoridade política máxima daquela época só abaixo do próprio Imperador. Segundo os relatos bíblicos, Pôncio Pilatos aparece como uma pessoa livre de culpa sobre a morte de Jesus. É ele que diz lavar as mãos com relação a morte de Cristo. É ele também que diz não ver crime algum sobre Jesus. Os evangelhos apresentam um Pôncio Pilatos bom, justo e até mesmo com pena de Jesus. Ora, essa visão bíblica não está em conformidade com a realidade histórica de Pilatos. Pilatos era conhecidamente um governador pragmático e super defensor da ordem pública. Sobre seu comando centenas de pessoas foram crucificadas, torturadas e presas afim de que se mantivesse a ordem. Pilatos tinha plenos poderes para libertar Cristo ou condená-lo, optou pela última. Na verdade, Pilatos estava decidido a matar Jesus, assim como fazia com qualquer pessoa que tentasse rivalizar sua autoridade. Pilatos era um homem ambicioso, cruel, pragmático. A questão é: Porque os Evangelhos tratam Pilatos como uma pessoa boa e sem culpa sobre a morte de Jesus? O primeiro passo é entender que os Evangelhos são escritos décadas após a morte de Jesus (aproximadamente a partir do ano 70 d.C.). Outro ponto é entender o contexto em que estão sendo escritos. Nesse período, o Cristianismo está surgindo como alternativa religiosa ao Judaísmo. Os relatos bíblicos tiram a culpa de Pôncio Pilatos e atribuem aos Judeus. Essa seria uma forma de jogar sobre os Judeus uma culpa importante e dessa forma deixar claro que essas duas religiões não são compatíveis entre si. Ora, assim os judeus são os responsáveis pela morte do grande mestre Jesus de Nazaré, ícone maior do Cristianismo. Esse seria um forte ponto de separação entre Judaísmo e Cristianismo, o que explica a atribuição da culpa aos judeus. Outro ponto é a necessidade de se manter uma boa relação entre o nascente Cristianismo e o Império Romano. Tirando a culpa de Pôncio Pilatos (representante de Roma) seria como se os cristão estivessem dizendo: "Olha, nós não temos problemas com vocês romanos. Nós até gostamos de Pilatos, era um cara 'bacana' não condenou Jesus, etc...". É bom ter em mente que nos primeiros anos do Cristianismo o Império Romano perseguiu, prendeu e matou centenas de cristãos, dai a necessidade de se manter uma boa relação com o Império. Tirar a culpa do romano Pilatos e atribuí-la aos judeus era uma boa oportunidade de estreitar os laços entre Cristianismo e Império, o que mais tarde aconteceria fortemente. Nesse caso, podemos dizer que a contradição entre o Pôncio Pilatos bíblico e o histórico deriva desses dois fatos: nessecidade de afirmação do Cristianismo e seu desligamente do Judaísmo e a necessidade de estabelecimento de uma boa relação entre Cristianismo e Império Romano.
Profº Adriano Vieira (Graduado em História-UNIFSJ)