Passado alguns dias da ocupação feita pelas forças armadas na Vila Cruzeiro e no conjunto de favelas do Alemão, chegou a hora de fazermos algumas análises. A primeira delas, é deixar claro que não hove heroísmo algum dos militares, já que o confronto direto com os traficantes se mostrou hipotético. De qualquer forma, essas favelas foram ocupadas. Se não tivermos um olhar crítico, essa ocupação se mostra absolutamente positiva, mas, como a idéia desse blog é ser crítico, vejamos os fatos. Essas comunidades viveram grande parte de sua existência sem a presença do Estado e de todo aparato estatal necessário para uma boa qualidade de vida. Na ausência do Estado, o poder paralelo do traficantes acabou se estabelecendo como a coisa mais próxima de um governo nessas favelas. Ora, se faltava o gáz, não era o Estado que trocava a botija e sim os traficantes. Se o morador não tinha renda para pagar contas de água e luz, não é o Estado que garantia o abastecimento e sim os traficantes. Até mesmo em linhas de maior "luxo" como TV à CABO (ou à gato) e INTERNET (ou gato-net) eram mantidos pelos traficantes, ao passo que o Governo Federal oferecia pura e simplesmente um ridículo bolsa-família. É claro que os traficantes agiam completamente a margem da lei (pelo menos das leis da Constituição) sendo muitas vezes juizes, júris e carrascos nessas favelas. Seja como for, na comparação entre benefícios trazidos pelo Estado e benefícios trazidos pelos traficantes, esses últimos troxeram muito mais! Sem nem entrar no mérito das ações marginais de alguns PMs que, deliberadamente, estavam invadindo casas de moradores (com o pretexto de fazer uma revista) para roubar objetos e dinheiro (o que jamais um traficante faria e nem permitiria que alguém fizesse), não se pode fugir da questão elementar que é: Com a saída dos traficantes (pilares na ausência do Estado) e com o comando dessas regiões cabendo agora ao Estado (que sempre esteve ausente), como ficará a vida desses moradores? Será que a intervençao do Estado vai melhorar as condições de vida? Será que os moradores vão sentir falta do auxílio dos traficantes? E as contas de água e luz que agora terão que ser pagas? E o fim da "gatonet" e da "TV à Gato"? O bolsa família consiguirá dar o mesmo suporte que o dinheiro dos traficantes dava? Todas essas são questões que me pareceram passar a margem das discussões da televisão e dos jornais, mas são questões cruciais nesse contexto. As respostas só poderão ser dadas pelo tempo, as consequências só poderão ser medidas 'a posteriori', mas as perguntas devem ser pensadas agora! Seja como for, tenhamos em mente: A liberdade chegou às favelas, ou o que chegou foram as grades da prisão?
Profº Adriano Vieira (Graduado em História-UNIFSJ)
domingo, 26 de dezembro de 2010
A Ocupação das Favelas no Rio: Liberdade ou Prisão?
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