Aqui em Stº Antº de Pádua, no bairro Cidade Nova existe um valão que durante quase todo ano fica vazio e sem vida, servindo quase que exclusivamente como receptor do esgoto de todo bairro, o que configura um despejo diário de um número extremamente alto de substâncias poluidoras. Por esse motivo o valão é sujo, cheira mal e não apresenta sinal de nenhum tipo de vida aquática, salvo pouquíssimas exceções. Desta feita, podemos dizer que o valão não tem nenhum atrativo que possa motivar alguém a estar em suas margens ou próximo dele.
Contudo, essa realidade triste é transformada durante os períodos de chuva na Cidade. Ao receber em suas nascentes um volume grande de águas pluviais, o valão tem sua rotina transformada e passa a ser o centro das atenções no Bairro Cidade Nova. Todos os anos quando seu nível de água sobe e sua aparência fica momentaneamente modificada ocorre o que eu denomino “A Farra dos Peixes”. Se antes o valão não hospedava nenhum peixe, com o regime de chuvas fortes ele passa a ter em suas águas um volume incrivelmente alto dos mais variados cardumes. Esse fenômeno atrai o interesse de todos os pescadores do Bairro e até mesmo de bairros visinhos que se deslocam para o valão com suas redes para darem início a mais uma “Farra dos Peixes”. São tantas redes e pescadores que é impossível passar pelo local e não parar pra acompanhar a pescaria múltipla. O valão fica tomado em suas margens por Pescadores e curiosos, o que transforma o poluído e desinteressante valão num centro de entretenimento, diversão e atividade social. Os pescadores com suas redes procuram voltar para casa com um bom número de pescado, os curiosos aproveitam o momento de descontração para conversar uns com os outros e ficam torcendo para que das águas do valão saiam os maiores peixes possíveis. A “Farra dos Peixes” chega a reunir entre 10 e 15 pescadores que dividem entre si os espaços do valão a procura da melhor lançada de rede. Estimo que a cada vez que essa “Farra dos Peixes” acontece, o número de curiosos que passam pelo valão ao longo da pescaria chegue a 200.
Escrevi essa matéria impulsionado pela última “Farra dos Peixes” que ocorreu em 19 de outubro de 2009, na qual eu estava presente acompanhado e registrando tudo. A “Farra” não tem data prevista e acontece em qualquer período do ano, basta que chova bastante e que as águas do valão do Bairro Cidade Nova subam para que ela ocorra.
É claro que nem tudo na “Farra dos Peixes” é festa. Existem grandes problemas que devem ser apontados. O principal deles é que, o fato do valão estar aparentemente limpo durante as cheias não garante a qualidade do pescado o que pode gerar problemas de saúde. Outra coisa que percebo é a presença de crianças em volta do valão o que é um risco para elas, pois a queda na água é um convite ao afogamento. Já presenciei também crianças pescando durante a “Farra” e lugar de criança é estudando e brincando não pescando com redes.
Acredito que o poder público poderia ser mais atencioso e transformar essa “Farra dos Peixes” que hoje é um evento isolado, em uma atividade que gerasse renda para os pescadores da região. Enquanto isso não ocorre ficamos esperando a próxima “Farra dos Peixes” e torcemos para que um dia o poder público tenha mais consciência ambiental e social, e não deixe que um valão de tanto potencial seja a privada de um bairro.
Profº Adriano Vieira (Graduado em História-UNIFSJ)
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